Filmes, livros e músicas disponíveis na hora, no lugar e no aparelho em que você quiser
Hoje, basta um computador com acesso à internet para obter (em muitos casos, de maneira ilegal) praticamente qualquer filme, livro ou música que você quiser. Logo, estes produtos culturais estarão – e em muitos casos já estão – a apenas um clique de distância, sem a necessidade de baixar nada e disponível na hora, no lugar e no gadget com acesso a web que você preferir. E, o melhor, de forma legal e, não raro, gratuita.
Cortesia da nuvem. Mas afinal o que é a nuvem? O mundo da computação pré-internet foi construído sobre a lógica de que tudo devia estar instalado ou armazenado na máquina de cada pessoa. A nuvem rompe com esse conceito. Cada vez mais, tudo que queremos ou precisamos pode ser acessado diretamente pelo navegador de internet. A maior oferta e acesso à banda larga, inclusive móvel, é essencial para o sucesso dessa visão.
“A cultura já está online. Qualquer mídia pode ser digitalizada com vantagens econômicas para a indústria. O que estamos começando a ver agora, é a internet se tornando o principal suporte para termos acesso a cultura e entretenimento”, observa o estudioso norte-americano Nicholas Carr, autor de A Grande Mudança (Editora Landscape), em que defende que a computação em nuvem está mudando a sociedade de forma tão profunda quanto à energia elétrica nos últimos cem anos.
Antes, no entanto, é preciso entender a evolução que permitiu chegarmos aqui. O culto despertado pelo iPod consagrou, na música, o dispositivo pelo qual se acessa o conteúdo, tornando possível hoje, entre outros motivos, a ascensão da música na nuvem. Se desde a virada do século ninguém dava mais muita bola para o desgastado CD, todos queriam ter o seu tocador de MP3, de preferência o iPod. Por sua vez, o sucesso do aparelho, no seu conceito original, só foi possível porque antes a prática de copiar CDs e compartilhar música na rede, simbolizada pela explosão do Napster, havia se disseminado.
O público estava, portanto, sedento por um dispositivo bacana em que pudesse colocar as suas músicas e levá-las consigo para onde quiser. O iPod, por sua vez, tirou vantagem também, do surgimento mais de vinte anos antes do Walkman que levou a música para ser trilha sonora inseparável de milhões – hoje, bilhões – de pessoas em todo o mundo. Na verdade, o que se viu durante toda a história da música como produto – iniciada com o fonógrafo – pode ser resumida como uma busca por ser cada vez mais acessível e disseminada.
Voltando no tempo, depois do fonógrafo levar a música para além das apresentações ao vivo, o rádio espalhou-a por novos ambientes e momentos do dia a dia das pessoas. Além disso, foi ele que introduziu o acesso gratuito as canções. Enquanto, a música transcendeu a barreira do suporte há muito tempo, os livros apenas agora começam a se libertar do papel. Por sua vez, os filmes estão no meio do caminho entre uma coisa e outra. Eis a explicação do motivo da oferta de conteúdo musical por streaming, ou seja, na nuvem, ser tão mais variada.
Os efeitos dessa mudança já podem ser observados como de costume entre a fatia do público mais ávida por música. Tanto nos Estados Unidos, como no Reino Unidos, duas diferentes pesquisas chegaram a mesma conclusão. O consumo de música em sites de streaming aumenta, principalmente entre os mais jovens, ao mesmo tempo, que o uso regular de sites de compartilhamento de músicas cai.
Uma outra clara evidência de que a nuvem veio mesmo para ficar está nos estúdios de cinema. Apesar de viveram as turras com serviços de streaming de filmes, como o Netflix, todos os grandes estúdios de cinema trabalham em serviços baseados na nuvem. A Disney (da qual Steve Jobs, o lendário fundador e CEO da Apple, é o maior acionista individual), por exemplo, desenvolve o Keychest, tecnologia que permitira ao público pagar um preço único pelo acesso permanente a um filme em diferentes plataformas ou aparelhos com acesso a internet, como computador, vídeo game, celulares, etc. Na literatura, as coisas ainda engatinham em menor velocidade.
“Spotify, Hulu, Google Books, etc. são todos bons exemplos, mas nenhum deles é completo o suficiente. Alguém (adivinhe quem?) precisa se dedicar e juntar tudo isso sob um grande guarda-chuva, com uma única interface e um único lugar em que as pessoas possam administrar todo o seu conteúdo, sejam livros, filmes, músicas, etc. Atualmente isto é tudo muito fragmentado e essas empresas estão trabalhando em produtos isolados”, afirmou ao Link Steve Jobs, dono da Apple. Quer dizer, o Fake Steve Jobs, personagem criado pelo jornalista norte-americano especializado em mídia e tecnologia Dan Lyons.
É, ele também parece saber muito bem o que diz. Não por acaso, durante um bom tempo houve quem achasse até no Vale do Silício que o Fake (falso, em inglês) era uma brincadeira do original. E o verdadeiro Jobs, o que será que está tramando? Uma pista foi dada no final de semana passado quando a Apple revelou a compra do serviço de streaming de música Lala. Não dúvide: todos os caminhos levam à nuvem.
MÍDIA FÍSICA
Sempre haverá mercado para a mídia física, nem que seja para colecionar. Prova disso é o revival do vinil nos últimos anos. Ainda há muita gente que prefere o suporte físico a uma cópia digital. E não será o streaming e a nuvem a pôr fim nisso. Ao menos, não por enquanto.
DOWNLOAD
Apesar da facilidade do streaming, nada leva a crer que o download acabará de uma hora pra outra. Até porque quase tudo que está na nuvem por ser baixado. E o download, de alguma forma, da às pessoas a sensação de “posse” sobre o produto.
LEIA TAMBÉM:
A ‘era iPod’ (2001-2009)
Calma, o iPod só morreu como símbolo
Com a “cloud music”, streaming já é, hoje, o rádio do futuro
Depois da música, é a vez dos filmes e livros
Todos os caminhos levam à nuvem
Porque a indústria prefere o streaming ao download
Ter ou não ter? Eis a questão que o digital propõe
Leia original aqui ou aqui.
Matéria publicada no caderno Link do Estadão de 6 de dezembro de 2009 feita a quatro mãos por: @brunogalo e @rafael_cabral