O futuro que os pequenos desenham hoje

15 11 2010

Como as crianças nascidas na era digital mudam tudo ao nosso redor

Comunicação
Falar e escrever no celular, usar comunicador instântaneo, ler sites e blogs: tudo isso vai contribuir para o desenvolvimento da inteligência comunicacional nas crianças. Apesar de alguns críticos dizerem que o uso de MSN pode afetar negativamente a capacidade dos pequenos de compreender expressões faciais, os educadores concordam que por causa da internet as crianças estão escrevendo e lendo mais. O caráter colaborativo da rede também incentiva a produção de conteúdo multimídia – teremos crianças escrevendo, gravando áudios e falando para a câmera cada vez mais cedo.

Cultura
O acesso a bens culturais, filmes, livros e músicas caminha para se tornar um serviço e não um produto específico. Para variar, é na música que este processo está mais avançado. Em 2008, 95% das músicas baixadas não tiveram direitos autorais pagos. Mas uma mudança na nossa relação com as canções está em curso neste momento. Em 2008, 52% dos jovens norte-americanos, entre 13 e 17 anos, preferiram ouvir músicas em sites de streaming gratuito, como MySpace, Pandora e Spotify, em que não se precisa baixar nada. Tudo é ouvido online.

Direito Autoral
Segundo uma pesquisa do canal Cartoon Network, duas em cada cinco crianças já trocaram arquivos pela web. Claro que isso muitas vezes esbarra na questão do copyright. Mas será que essa é uma noção que ainda será usada quando esses pequenos chegarem à vida adulta? Já nascidos digitais, eles são parte de uma geração acostumada à cultura do remix que foi popularizada com a internet e com sites como o pioneiro Napster. Para o pesquisador Urs Gasser, esse comportamento pode mudar não só as leis de direitos autorais, mas também redefinir o que é, afinal, ‘autoria’.

Política
Políticos estão percebendo a eficiência das ferramentas da web 2.0 para fazer campanha de um jeito diferente. Essas plataformas são dominadas pelos jovens, que por causa da troca rápida e multimídia de informações, têm capacidade maior de descobrir verdades e mentiras, se unir contra e a favor daquilo em que acreditam e apoiar candidatos e ideias com os quais se identificam. O primeiro exemplo desse novo engajamento aconteceu nas últimas eleições presidenciais norte-americanas: Barack Obama conseguiu levar às urnas milhões de jovens, num pleito em que o voto é facultativo.

Trabalho
No futuro as empresas serão menores, não existirá mais o conceito de carreira, os empregos vão acabar e o ócio criativo será total: trabalharemos só por prazer. Ao menos é isso que defende o professor Thomas Malone, especialista em trabalho do MIT. Pesquisas já mostram que os jovens estão batendo de frente com seus chefes por causa de diferenças culturais e de comunicação. E diante de funcionários acostumados a opinar livremente, não familiarizados com hierarquias e imposições, as estruturas empresariais serão forçadas a mudar drasticamente.

Cérebro
Pesquisas recentes em neurociência afirmam que a internet está mudando o cérebro das crianças. Apesar de o processo cognitivo que as leva a compreender melhor a linguagem digital ser plenamente entendido (é semelhante ao de aprender a língua mãe), ainda não se sabe exatamente como o uso da web vai mudar a massa cinzenta. De acordo com Gary Small, autor do livro iBrain, sobre as modificações que o cérebro está sofrendo com o uso da internet, fazer buscas no Google ativa uma área mais extensa do cérebro do que os pontos que são estimulados durante a leitura, por exemplo.

Leia também
A geração que desenha nosso futuro
O futuro que os pequenos desenham hoje

Leia mais aqui ou aqui.

Matéria de 12 de outubro de 2009 a seis mãos: @ana_freitas,@brunogalo@rafael_cabral





Como o computador e a web estão alterando a nossa mente

14 08 2010

O neurocientista e autor de “iBrain – Sobrevivendo à Alteração Tecnológica da Mente Moderna” Gary Small explica

A internet muda nosso cérebro. Eis a conclusão do livro (inédito no Brasil) do neurocientista americano Gary Small, diretor do Centro de Pesquisa em Memória e Envelhecimento da Universidade da Califórnia. Small percebeu que pessoas com pouca experiência na web, quando online, mostravam atividade na linguagem, memória e centros visuais do cérebro, o que é típico de quem está lendo. Já usuários experientes tinham mais atividade nas áreas de tomada de decisão. Após cinco dias seguidos de navegação, a atividade cerebral dos novatos ficou mais parecida à dos veteranos. O cérebro adaptou-se rapidamente ao uso da rede.

Agora, há uma boa e uma má notícia aí: a boa é que, se você for mais velho, navegar pode ajudar a mantê-lo afiado; a má é que os mais experientes têm a capacidade neural muito consumida e sobra pouco para outras habilidades. Isso pode ser um indício do porque é difícil ler quando estamos online. É como ler um livro e fazer palavra-cruzada ao mesmo tempo. Leia entrevista com Small:

Como surgiu a ideia de iBrain?
Passei minha carreira desenvolvendo tecnologias para estudar o cérebro à medida que envelhece. Fiquei impressionado como as novas tecnologias, em especial, a internet, têm um efeito profundo em nossas vidas. Gostaria de saber qual o efeito delas no cérebro.

Por que o cérebro nunca foi afetado de forma tão rápida e drástica?
Acho que por causa da aceleração no ritmo das inovações e da quantidade de tempo que gastamos com estas novas tecnologias.

Como a internet melhora a inteligência das pessoas?
Ela de certa forma cria uma extensão da memória biológica – temos um ‘HD externo’ com imensa quantidade de informações acessível a qualquer momento. Sacrificamos a profundidade pela amplitude.

Qual é o lado positivo e negativo da internet para as crianças?
Os positivos são a possibilidade de se relacionar e colaborar em rede e o acesso instantâneo à informação. Os negativos incluem a o comprometimento da atenção e da dependência da tecnologia.

Como será o cérebro no futuro?
Prevejo que vamos ter implantes de micro-chip no cérebro que nos ligarão a internet e a discos rígidos externos. Não vamos mais usar mouse e teclado. Vamos pensar em algo e instantaneamente isso vai acontecer.

Leia também aqui

Entrevista publicada por @brunogalo no caderno Link do Estadão de 29 de novembro de 2009