Um dia, seu filho vai se sentir como você se sente

15 11 2010

Todas as crianças estão (ou querem estar) na internet e a usam com desenvoltura; daqui para a frente, elas devem transformar esse ambiente

“Se pudesse escolher, adoraria ser criança agora”, suspira o apresentador e blogueiro Marcelo Tas. Observador da relação dos pequenos com as novas tecnologias, ele se diz fascinado com as possibilidades de interação, participação e expressão do mundo atual. Para Tas, a linguagem da rede é muito parecida com o universo das crianças: fragmentado, espontâneo e não-linear pela própria natureza.”Ao contrário dos adultos, que são mais enquadrados pelos vícios e hábitos de linguagem, com os sentidos mais domesticados, as crianças estão abertas às (novas) experiências, sem preconceito”, defende.

Não por acaso, hoje, de um jeito ou de outro, as crianças estão – ou querem estar – na internet. A presença dos pequenos na rede é maciça e não para de crescer. Por aqui, de acordo com uma pesquisa da Turner Brasil Network do ano passado, 51% das crianças e jovens, entre 6 e 14 anos, acessam a web todos os dias. Segundo um estudo recente da Nielsen, nos Estados Unidos, enquanto o número total de usuários cresceu 10% entre 2004 e 2009, o de crianças, entre 2 e 11 anos, subiu 19%.

“Muita gente diz que a internet está nos tornando mais burros. De certa forma, isso é verdade. Desaprendi a decorar telefones, endereços, dados geográficos, datas. Mas tudo bem. Aprendi muitas outras coisas que compensam o que perdi”, diz o educador brasileiro Paulo Blinkstein. “Sempre foi assim na história da humanidade. Lembre-se que houve época que não havia escrita, e o que se valorizava era a memorização pura”, exemplifica.

“Enquanto o adulto vê a internet como um substantivo, a criança a vê como um verbo. Ou seja, uma ferramenta que permite a ela fazer o que deseja. E hoje, para formar uma frase, todos, não só as crianças, precisamos deste verbo”, acredita Volney Faustini, pesquisador da área. Para os pequenos, a tecnologia até parece invisível. O fascínio que elas despertam está muito mais nas suas possibilidades, do que nelas mesmas. Em suma, elas são um meio e não um fim em si. “O adulto é atraído pela ferramentas. A criança, pela história que elas contam”, analisa Tas.

Hoje, no entanto, pesquisar na internet, enviar e-mail, criar blog e postar vídeo no YouTube são coisas que as crianças já fazem e aprendem a fazer sozinhas. É preciso, portanto, estimulá-las a extrapolar esse modelo de publicação e de acesso a informação. Para Blinkstein, que é especialista no uso da tecnologia aplicada à educação, a disponibilidade instantânea de informação está tornando a educação tradicional cada vez mais obsoleta, deixando as crianças à deriva.

“Infelizmente, elas não aprendem a usar o seu tempo online para atividades mais profundas. A internet se vira só um passatempo, o que é trágico”, afirma. “Usar o computador como uma ferramenta de investigação cientifica profunda não é espontâneo, não se aprende sozinho. É preciso ter um professor muito bem preparado, materiais de qualidade e formas de avaliação aprofundadas. E, principalmente, a tecnologia permite centrar a educação no aluno, e não no professor”, explica Blinkstein.


INOVAÇÃO

Ah, sim. Se você chegou até aqui sem entender o porquê do título, responda: você já ficou surpreso – ou até mesmo assustado – com a desenvoltura e naturalidade que seu filho demonstra ao mexer com os equipamentos eletrônicos e o computador na sua casa? Fique tranquilo. Você não está sozinho e nem é o primeiro a ter essa impressão.

“Tudo que existe no mundo antes de nascermos é absolutamente natural. As novidades que surgem enquanto somos jovens são uma oportunidade e, com sorte, uma carreira a seguir. Tudo aquilo que aparece depois que você tem trinta anos, entretanto, é anormal, o fim do mundo como o conhecemos. Isso, até que tenhamos convivido com essa novidade por uns bons dez ou quinze anos, quando, enfim, ela começa a parecer normal”, definiu certa vez – e com rara precisão – Douglas Adams, autor inglês do livro O Guia do Mochileiro das Galáxias.

ENTREVISTA

URS GASSER, professor 

Urs Gasser é professor do centro de Internet e Sociedade da Universidade de Harvard e co-autor do livro Born Digital: Undestanding the First Generation of Digital Natives (Nascidos digitais: entendendo a primeira geração de nativos digitais), amplo estudo sobre aqueles que nasceram após 1980. No geral, o livro é otimista quanto ao futuro da internet, “importante para formar cidadãos globais com espírito de inovação e colaborativismo”, mas critica a falta de segurança dos dados das crianças na rede.

Afinal, o que é um nativo digital?Usamos esse termo em um sentido metafórico. Ele descreve a população de jovens nascidos depois dos anos 1980 e que teve acesso às tecnologias digitais de uma maneira significativa. São as crianças e os adolescentes de hoje, que não conseguem imaginar a vida sem o Google ou a Wikipedia. É importante destacar que nem todas as crianças hoje são nativas digitais, já que existe uma exclusão digital muito grande e nem todas têm a oportunidade (ou a habilidade) de participar do ciberespaço.

A relação da geração pós-Napster com as leis de copyright pode ajudar a atualizar as leis de direitos autorais?
A resposta da Justiça para a cultura de compartilhamento hoje é a repressão. Quando essas crianças envelhecerem, no entanto, essas leis se tornarão mais brandas e se adaptarão a essa nova lógica. A ascensão dos Partidos Piratas na Europa é o começo desse desenvolvimento.

A criatividade das crianças esbarra nos interesses da indústria?
Às vezes. Não sabemos se a internet vai continuar sendo a plataforma aberta que conhecemos hoje, possibilitando a cultura do remix e o compartilhamento, pois há forças significativas que defendem uma versão mais controlada da rede, por causa de seus interesses. Isso sim pode prejudicar a criatividade. Estamos em uma encruzilhada. Não sabemos se a arquitetura da internet continuará a mesma, mas foi ela que propiciou a parte boa da cultura digital.

Com tantas fontes, as crianças digitais são mais críticas com aquilo que consomem?
A criança média, não. Porém, vemos que quanto mais conectada, mais ela está predisposta a checar em mais de uma fonte. Descobrimos uma regra: Quanto mais conectada a criança, mais discernimento ela tem.

Leia também
A geração que desenha nosso futuro
O futuro que os pequenos desenham hoje
Um dia, seu filho vai se sentir como você se sente

Leia mais aqui ou aqui.

Matéria de 12 de outubro de 2009 a seis mãos: @ana_freitas,@brunogalo@rafael_cabral





O futuro que os pequenos desenham hoje

15 11 2010

Como as crianças nascidas na era digital mudam tudo ao nosso redor

Comunicação
Falar e escrever no celular, usar comunicador instântaneo, ler sites e blogs: tudo isso vai contribuir para o desenvolvimento da inteligência comunicacional nas crianças. Apesar de alguns críticos dizerem que o uso de MSN pode afetar negativamente a capacidade dos pequenos de compreender expressões faciais, os educadores concordam que por causa da internet as crianças estão escrevendo e lendo mais. O caráter colaborativo da rede também incentiva a produção de conteúdo multimídia – teremos crianças escrevendo, gravando áudios e falando para a câmera cada vez mais cedo.

Cultura
O acesso a bens culturais, filmes, livros e músicas caminha para se tornar um serviço e não um produto específico. Para variar, é na música que este processo está mais avançado. Em 2008, 95% das músicas baixadas não tiveram direitos autorais pagos. Mas uma mudança na nossa relação com as canções está em curso neste momento. Em 2008, 52% dos jovens norte-americanos, entre 13 e 17 anos, preferiram ouvir músicas em sites de streaming gratuito, como MySpace, Pandora e Spotify, em que não se precisa baixar nada. Tudo é ouvido online.

Direito Autoral
Segundo uma pesquisa do canal Cartoon Network, duas em cada cinco crianças já trocaram arquivos pela web. Claro que isso muitas vezes esbarra na questão do copyright. Mas será que essa é uma noção que ainda será usada quando esses pequenos chegarem à vida adulta? Já nascidos digitais, eles são parte de uma geração acostumada à cultura do remix que foi popularizada com a internet e com sites como o pioneiro Napster. Para o pesquisador Urs Gasser, esse comportamento pode mudar não só as leis de direitos autorais, mas também redefinir o que é, afinal, ‘autoria’.

Política
Políticos estão percebendo a eficiência das ferramentas da web 2.0 para fazer campanha de um jeito diferente. Essas plataformas são dominadas pelos jovens, que por causa da troca rápida e multimídia de informações, têm capacidade maior de descobrir verdades e mentiras, se unir contra e a favor daquilo em que acreditam e apoiar candidatos e ideias com os quais se identificam. O primeiro exemplo desse novo engajamento aconteceu nas últimas eleições presidenciais norte-americanas: Barack Obama conseguiu levar às urnas milhões de jovens, num pleito em que o voto é facultativo.

Trabalho
No futuro as empresas serão menores, não existirá mais o conceito de carreira, os empregos vão acabar e o ócio criativo será total: trabalharemos só por prazer. Ao menos é isso que defende o professor Thomas Malone, especialista em trabalho do MIT. Pesquisas já mostram que os jovens estão batendo de frente com seus chefes por causa de diferenças culturais e de comunicação. E diante de funcionários acostumados a opinar livremente, não familiarizados com hierarquias e imposições, as estruturas empresariais serão forçadas a mudar drasticamente.

Cérebro
Pesquisas recentes em neurociência afirmam que a internet está mudando o cérebro das crianças. Apesar de o processo cognitivo que as leva a compreender melhor a linguagem digital ser plenamente entendido (é semelhante ao de aprender a língua mãe), ainda não se sabe exatamente como o uso da web vai mudar a massa cinzenta. De acordo com Gary Small, autor do livro iBrain, sobre as modificações que o cérebro está sofrendo com o uso da internet, fazer buscas no Google ativa uma área mais extensa do cérebro do que os pontos que são estimulados durante a leitura, por exemplo.

Leia também
A geração que desenha nosso futuro
O futuro que os pequenos desenham hoje

Leia mais aqui ou aqui.

Matéria de 12 de outubro de 2009 a seis mãos: @ana_freitas,@brunogalo@rafael_cabral





‘Quero provar que não há aluno ruim’

14 08 2010

Brasileiro especialista em tecnologia aplicada à educação, Paulo Blikstein, quer descobrir os talentos não revelados dos estudantes

Ainda criança, o engenheiro e professor paulistano Paulo Blikstein, 36 anos, desmontava todo e qualquer objeto que encontrava pela frente em casa – um radinho de sua mãe costumava ser a vítima preferida. Para sua sorte, seu visionário avô Saulo sempre o incentivou a aprender mais sobre eletrônica, fato que hoje ele considera determinante para sua carreira.

Além disso, ele estudava em uma escola diferente (“da filha do educador brasileiro Paulo Freire, falecido em 1997” – e do qual é devoto) em que os alunos tinham a sua criatividade bastante estimulada. Apenas para se ter uma ideia do quão progressista era o tal colégio, os alunos não faziam prova, sequer tinham nota, e ainda participavam de discussões para combinar a grade curricular.

Aos 15 anos, atraído pelas novas tecnologias que então emergiam, Paulo ganhou de aniversário o livroLogo: Computadores e Educação, do pioneiro educador sul-africano Seymour Papert, em que ele apontava caminhos para o uso dos computadores no ensino.

Mais tarde, enfim, ele resolveu estudar engenharia na USP, decidido a se tornar um inventor de novos aparelhos. Consciente de que a referência de escola que tinha era bastante diferente da de seus colegas, durante a graduação, ele ficou intrigado com o fato de que muitos bons alunos não conseguiam aprender coisas básicas e percebeu que havia algo muito errado com aquele método de ensino, que ele classifica como tradicionalíssimo. “Por que não se poderia ensinar engenharia do jeito do Paulo Freire, do jeito do Seymour Papert?”, se perguntava Paulo, à época.

APRENDER PARA ENSINAR
Movido por esse incômodo, pouco tempo depois da sua formatura, ele se candidatou a uma vaga no grupo do próprio Papert, no Media Lab, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, um dos principais pólos da vanguarda mundial de pesquisa em novas tecnologias.

De lá pra cá, já se vão nove anos desde que Paulo migrou para estudar, sem nunca se esquecer do Brasil. “Meu trabalho só tem sentido se eu puder ajudar a melhorar alguma coisa na educação do nosso País”.

Mas, voltando à pergunta anterior, que jeito de se ensinar diferente seria esse afinal? “Entre outras coisas, Paulo Freire diz que a educação deve levar as pessoas do real para o possível, ou seja, deve ensinar que o conhecimento é uma arma de transformação do mundo. Já o Papert é o grande defensor daquilo que popularmente chamamos de aprender fazendo.”

E continua: “Portanto, em vez de aulas teóricas e de laboratórios com problemas inventados, o ensino de engenharia (mas não só ele) deveria colocar o aluno para resolver problemas reais, desde o primeiro ano. De preferência, problemas socialmente importantes como o saneamento básico, etc.” E conclui: “Daí, as aulas teóricas passam a ter mais sentido na cabeça do aluno. Ele precisa aprender cálculo, por exemplo, para saber dimensionar o novo sistema de esgoto que inventou, e não simplesmente para fazer uma prova.”

Em 2002, durante sua passagem no MIT, que durou três anos e lhe rendeu um mestrado, é que Paulo pôde finalmente colocar em prática algumas de suas ideias. Estimulado a pesquisar sobre educação e novas tecnologias, ele fez do dia-a-dia dos estudantes a base para o ensino de ciências, muitas vezes, afirma ele, ministradas nas escolas – não apenas brasileiras – como a chata continuação de fórmulas desconectadas da realidade. Em uma parceria entre o Media Lab e a Prefeitura de São Paulo, que mais tarde foi replicada em outros países, ele criou experimentos com alunos de escolas públicas, que buscavam resolver problemas da comunidade, como ligações clandestinas de eletricidade.

TODO ALUNO É BOM
Atualmente, após concluir um doutorado na Universidade de Northwestern, em Chicago, e ter sido assediado por algumas das principais universidades dos EUA, dá expediente na Universidade de Stanford, na Califórnia. Em termos de pesquisa, tem se dedicado a criar programas e sistemas que ajudem a “libertar” a criatividade e inventividade das crianças, como placas de robótica educativas, softwares de simulação científica, etc.

Além, ainda, da criação de modelos computacionais da cognição humana, que, segundo ele, irão ajudar a entender de forma mais profunda como funciona o aprendizado das crianças. Paulo diz crer que por meio dessas iniciativas conseguirá cumprir seu projeto de vida: “Quero provar que não há alunos ruins. Há apenas alunos com talentos não descobertos.”

EDUCAÇÃO OBSOLETA
Paulo Blikstein não é conciso na hora de falar sobre seus projetos e ideias. Ele fala bastante e lentamente, além de fazer grandes parênteses dentro de cada uma das suas respostas. O que não quer dizer que não valha a pena ouvi-lo – pelo contrário.

Ele acredita que há um descompasso entre as possibilidades abertas pelas novas tecnologias e a forma como elas são usadas nas escolas. “Falta foco na criação de conhecimento”, afirma. “A disponibilidade instantânea de informação está tornando a educação tradicional cada vez mais obsoleta”, conclui. Apesar dos elogios, ele não nutre uma fé cega no novo. “Não podemos nos deslumbrar e achar que a tecnologia é a resposta para todos os problemas”, alerta.   Enquanto isso, Paulo participa de um projeto com jovens de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Toda quarta-feira, ele conversa e orienta jovens de uma oficina de robótica via Skype.

Os encontros ocorrem no colégio Santo Américo, que há cerca de seis anos abre seus laboratórios, entre eles o de robótica sob o comando do professor Fernando dos Santos, para os jovens da comunidade vizinha.   Paulo participa da iniciativa desde 2007. “Os projetos dessas crianças, muitas vezes, são melhores do que aqueles que vejo nas escolas de elite dos EUA”, garante.

Jaíne Roberta dos Santos, de 19 anos, é uma das alunas mais aplicadas da oficina. Balconista, ela agenda suas folgas do trabalho para toda quarta-feira, para assim continuar o desenvolvimento do seu protótipo: um carrinho de bebê que anda sozinho para frente e para trás quando um sensor capta o choro da criança. O objetivo é de simular um balanço.

Paulo tem alguns planos bem ambiciosos, mas enquanto eles ainda não se realizam, ele se contenta com pequenas ações que, na prática, ajudam a alargar os estreitos horizontes de muitos desses jovens.

FOTO: DIVULGAÇÃO

Leia também aqui

Perfil publicado por @brunogalo no caderno Link do Estadão de 11 de maio de 2009





A geração que desenha nosso futuro

15 01 2010

Meio sem querer, com naturalidade e de maneira silenciosa, crianças nascidas na era digital prometem mudar tudo

Se desde que o mundo é mundo há pais e filhos, neste momento particular, a era digital sobrepôs a essa estrutura uma outra divisão: nativos e imigrantes. Nativos digitais são aqueles que nasceram quando já existia computador, ou seja, a partir da década de 1980. Imigrantes digitais têm mais de 30 anos e se lembram de seu primeiro PC.

Enquanto os imigrantes, ou grosso modo, os pais, não estão muito familiarizados com o ambiente da web, os nativos, ou os filhos, estão no centro daquilo que promete ser uma radical mudança de comportamento. Os nativos digitais prometem uma reorganização na maneira como trabalhamos e até na alteração de conceitos cristalizados, como o do direito autoral.

“Essa geração está desenvolvendo novas formas de pensar, interagir, trabalhar e se socializar”, escreve o pesquisador Don Tapscott, em Grown Up Digital (Crescidos digitais, em inglês), ainda inédito no Brasil. O mais curioso? Eles fazem tudo isso meio sem perceber.

Se a contracultura dos anos 60 foi criação consciente dos jovens que queriam romper com o passado, as crianças digitais operam uma revolução que é silenciosa. Afinal, elas só estão agindo naturalmente.

“Os nativos digitais são aqueles que já nasceram acostumados à cultura da internet. Acostumadas ao compartilhamento de arquivos, as crianças querem espalhar aquilo com o que elas se importam, o que não raro esbarra em noções anteriores a elas, como o copyright”, explica Urs Gasser, autor do livro Born Digital (Nascidos Digitais) e professor do centro de Internet e Sociedade de Harvard. Essa relação tão próxima à tecnologia, segundo ele, afetará questões como segurança, propriedade intelectual, comunicação e aprendizado.

Para a pesquisadora Lúcia Santaella, a mudança começou lá atrás, na década de 1980, quando tecnologias como videocassete, fotocopiadora e controle remoto nos prepararam para deixar a condição de consumidores passivos e exigir produtos personalizados. “Essas tecnologias permitiram que buscássemos o tipo de informação e de entretenimento que se enquadra com nosso perfil. Não passamos direto para a cultura digital”. O ápice disso viria com a internet.

Com o crescimento demográfico, os nativos digitais deverão ser 80% da população economicamente ativa em 2020, de acordo com Don Tapscott. Não é exagero, portanto, dizer que essa geração que já nasceu familiarizada com o ciberespaço moldará a sociedade do futuro. “Quem fará as leis de amanhã são justamente as crianças que hoje baixam conteúdo”, defende Gasser, que vê na ascensão dos Partidos Piratas na Europa o começo dessa renovação, que não deve ficar só na legislação.

Segundo o Ibope, 29% dos brasileiros urbanos entre 10 e 17 anos preferem conversar pela internet. Para 45% deles, Orkut e Facebook são parte da rotina. “A tecnologia não é só parte do cotidiano, mas integra a biologia dos jovens. Isso parece explicar porque eles já nascem sabendo manipular e viver com essas máquinas que estão ficando cada vez mais sutis”, finaliza Santaella.

Para ele, tecnologia é natural
O menino Luca Albano, de 10 anos, pode ser considerado nativo digital não só pela data em que nasceu, mas pela naturalidade que demonstra ao falar sobre tecnologia e ao usá-la. Apesar de ter começado a desenhar usando papel, hoje o menino (cujos pais trabalham como ilustrador e fotógrafa) usa um software – que ele aprendeu a usar sozinho – para produzir animações, desenhadas quadro a quadro. Depois de prontos, ele publica os trabalhos em seu canal no YouTube e em seu blog. Luca diz que já perdeu a conta de quantos vídeos fez. Além dos desenhos animados, que geralmente têm como temas os gêneros aventura e ficção científica (o último, preferido, inspirou o desenho abaixo), ele faz montagens com fotos que acha na internet e baixa músicas para sonorizar e produzir suas próprias versões dos clipes das músicas de que gosta.

Leia também
A geração que desenha nosso futuro
O futuro que os pequenos desenham hoje
Um dia, seu filho vai se sentir como você se sente

Leia mais aqui ou aqui.

Matéria de 12 de outubro de 2009 a seis mãos: @ana_freitas, @brunogalo e @rafael_cabral