Ainda há poucos títulos e somente para venda, mas download pago deve ser disponibilizado em breve; ‘Ou você gosta ou odeia’, diz editor, sobre livros falados
Quem não se lembra? Você, ainda criança, deitado na cama, esperando ansiosamente a história que lhe seria lida naquela noite. Pois é, esse hábito, restrito aos pequenos, tem tudo para chegar aos mais velhos, graças a uma forcinha da tecnologia.
É que, com a proliferação dos tocadores de MP3, como o iPod, algumas editoras nacionais se animaram e decidiram investir nos audiobooks, já tradicionais nos EUA, de olho no vasto mercado potencial.
No Brasil, ao menos um autor é grande fã do formato. Laurentino Gomes, de 1808, ouve audiobooks em seu iPod há mais de cinco anos. Ele assina um plano da Audible (www.audible.com), empresa americana que é a maior distribuidora de “livros para ouvir” no mundo, com mais de 80 mil opções. Pagando US$ 20 por mês, ele tem direito a baixar dois livros.
“Já ouvi mais de cem tranqüilamente. Adoro livros em áudio”, conta Laurentino, que costuma ouvi-los durante os passeios matutinos com o cão da família, que estava doente no dia da foto da capa desta edição.
Nos EUA, os audiobooks movimentaram quase US$ 1 bilhão em 2006. O valor sem dúvida chama atenção, mas, em termos do mercado livreiro americano como um todo, que arrecadou pouco mais de US$ 37 bilhões em 2007, é bem menos impressionante.
De qualquer forma 2008 deve ser o ano da virada do audiobook nos EUA. É que no começo do ano a Audible foi comprada pela Amazon, pela bagatela de US$ 300 milhões. Analistas apontaram na época da compra que a aquisição seria uma forma de tentar turbinar as vendas do Kindle, que além de ler e-books, também roda audiobooks. Dessa forma, eles esperam ampliar o número de downloads de audiobooks que em 2006 representavam apenas 14% do total do mercado.
Enquanto isso, o Brasil ainda engatinha no assunto. A editora Audiolivros (www.audiolivro.com.br), lançada em 2006, é pioneira no País. O Caçador de Pipas, O Monge e o Executivo e 1808, são alguns dos títulos oferecidos pela editora. Atualmente ela não trabalha com downloads de livros, mas promete para o final do ano o começo do serviço. “Estamos trabalhando para oferecer todos os títulos por um preço de R$ 9,90”, conta Marco Giroto, dono da editora.
Já a Plugme (www.plugme.com.br), que será lançada pela Ediouro durante a Bienal, promete uma lista de best-sellers, narrados pelos próprios autores ou por nomes famosos, como José Wilker e Paulo Betti. Entre os autores que narraram o próprio livro o destaque fica para Nelson Motta que, em alguns momentos, imita o cantor Tim Maia, personagem do seu livro, Vale Tudo. Ficou curioso? Ligue para 4003-7272, fale Vale Tudo, após ser perguntado pela atendente eletrônica e pronto: você ouvirá um trecho bastante divertido em que Motta imita Tim.
Já os autores se dividem quanto à novidade. “Parece-me uma coisa natural. Afinal as pessoas perdem com o tempo esse hábito de ouvir histórias, que eu acho muito legal”, fala o escritor Paulo Lins. Já o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro revelou opinião completamente divergente sobre o tema. “Acho um horror. Para mim é o leitor que dá cara ao livro. Essa é a grande graça da literatura.”
Para Patrick Osinski, diretor-geral da Plugme, o formato não aceita meio termos. “Ou você gosta ou odeia.”
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Matéria publicada por @brunogalo no caderno Link do Estadão de 11 de agosto de 2008